31 julho 2011

Deu-lhe uma sede de sol, assim sem mais nem menos, uma sede forte, exigente de saciação imediata, abaixou-se pendendo de lado, desceu a meia da canela da perna, ali estava a sede na pele da perna direita, quase no osso que desenha um monte no fim da canela, estava ali concentrada na forma de coceira, de nada adiantou a fricção, os esfregar das pontas de dedos, quase as unhas, logo a sede de sol subiu-lhe pelas coxas, pelo sexo, veio para o rosto imediatamente, como se pulasse a barriga, o peito, as costas, sentiu apenas um correr de energia pela coluna, um fluxo de forças ascendentes que borbulharam no rosto, na pele do rosto, aquela sede de sol, começou a inquietar-se, saiu da mesa, empurrou o teclado para o lado, foi até à janela, as sombras tomavam todas as ruas, queria ver o mar, não via, sombras, apenas sombras, muitas sombras alargadas entre os prédios, um vento sul atravessando os vãos entre eles, olhou o relógio, era quase hora de ir, uns quinze minutos e poderia sair, foi ao banheiro, a sede de sol tinha descido para os músculos, apertou-se nas batatas das pernas, nos músculos do peito, doíam de sede, inquietou-se, pensou que poderia morrer daquela sede de sol, começou a apavorar-se, uma doença estranha e repentina tinha lhe vindo, assim, no auge dos anos e da saúde, e das forças, e do vigor, lavou o rosto e a sede de sol já se aninhava nas vísceras, na barriga, correu para a copa, tomou um grande copo d’água, de nada adiantou, sentiu ânsias de vômito, não era sede de água, era de sol, tinha que sair imediatamente, correr para alguma nesga de sol antes que