26 julho 2010



Era por volta das três da tarde, voltava mais cedo para prender os bezerros, e enquanto passava por um trecho de mata se viu atraída por umas flores lilás. Colheu alguns galhos com aquelas flores miúdas e sem cheiro especial, depois no brejo colheu umas brancas, estas exageradas no perfume doce. Levava-as nas mãos grossas quando se deu por conta da idade que tinha, a consciência lhe veio abrupta com a recordação de que já tinha 30 anos. Ainda não casara. Achou-se enraivecida consigo mesma por colher aquelas flores, jogou-as no chão e se foi. Sentia agora ainda mais claramente e forte os desejos do sexo. Acertou a calça que usava puxando-a para a cintura, arregaçou as mangas da blusa, tirou e recolocou o chapéu, acelerou o passo e ansiou pelas águas limpas e macias do córrego, as pedras lisas, o sabão, as silenciosas ingazeiras.

Um comentário:

  1. O que uma alma de poeta pode fazer numa narrativa...
    A doçura na imagem dessa mulher, mesmo em contraponto com a solidão invade-nos, florida, suave, erótica... sim, Eros atravessa essa paisagem...

    abraçamigo

    ResponderExcluir