17 agosto 2010

Você não precisa voltar, disse o dono da loja de ferragens, aproveite o restante da tarde do jeito que achar melhor. Quando saiu do consultório do dentista sentia-se feliz. Aproveitar a tarde, dizia contente para si mesmo. Saiu andando pela Nossa Senhora dos Navegantes, sorrindo de modo estranho, efeito da anestesia, encobrindo o sorriso com a mão para que outros não percebessem a boca torta. Era terça feira. Passou pelo ponto de ônibus e seguiu, foi na direção do pier, andou até o final, abriu os braços em cruz pra vazar o vento, ficou ali uns minutos e voltou. Sentou-se num banco ao lado do pier e pôs-se a olhar o mar. Passava um navio conduzido pelo rebocador. Bem poderia ir para casa e dormir, descansar, ver TV. Não, a casa era um quarto e banheiro. Ficava deprimido em casa. Queria ir para casa, precisava ir, lavar a roupa acumulada, dar um jeito naquela bagunça, mas preferia ficar. Veio um sujeito e sentou-se ao seu lado.

2 comentários:

  1. Tudo aqui fala.
    O preto e branco das fotos e o fundo branco da página,
    o gosto da expressividade na fotografia,
    o texto descritivo, enfim, num monólogo interior e denso.
    Uma voz serena, esconde a voz que há por trás do pano, do template.
    Nada muito diferente dos livros, dos livros impressos. A mesma intenção, talvez, e a mesma impressão em nós.

    Abraço, irmão, abraçamigo e fraterno.

    ResponderExcluir
  2. Desenvolve a história com situações que pode ter sido vivenciada pelo leitor: ir ao dentista, o sorriso estranho por causa da anestesia, olhar o mar, abrir o braço em cruz....mas você consegue desenvolver uma história, com algo mais, e terminar de uma maneira que dá vontade de continuar a leitura, aguça a curiosidade do leitor. "Veio um sujeito e sentou-se ao seu lado". E o leitor fica: sim, e aí?

    ResponderExcluir